Título:Capitães da Areia
Autor: Jorge Amado
Editora: Companhia das Letras
Edição: 3ª / 16ª Reimpressão
Páginas: 294
ISBN: 978-85-359-1169-5
Nota: 5/5
Nota: 5/5
Uma das dimensões do valor de uma obra é o quanto ela consegue manter-se atual mesmo com o passar dos anos. "Capitães da Areia" é uma dessas grandes obras que sobrevivem ao tempo. Carrega em suas linhas um tema ainda atual e polêmico.
O livro foi escrito pelo autor brasileiro Jorge Amado e publicado em 1937. O romance retrata a vida do grupo de menores abandonados, chamados de "Capitães da Areia", ambientado na cidade de Salvador do ano de 1930. Tendo como cenários as ruas e as areias das praias de Salvador, o livro retrata a vida de crianças sem família que viviam em um velho armazém abandonado (trapiche) no cais do porto da capital baiana. Os motivos que as uniram eram os mais variados, entre eles: ficaram órfãs, foram abandonadas, ou fugiram dos abusos e maus tratos recebidos em casa.
O livro é dividido em três partes: “Sob a Lua, Num Velho Trapiche Abandonado” (apresenta o local em que as ações transcorrerão); “Noite da Grande Paz, da Grande Paz dos Teus Olhos” (parte que surge a menina Dora); Canção da Bahia, Canção da Liberdade (mostra a desintegração dos líderes). Antes dessas divisões, existe uma sequência de reportagens e depoimentos, explicando que o grupo Capitães da Areia é composto de menores abandonados, marginalizados, que aterrorizam Salvador.
Entre os personagens que compõem o núcleo central da narrativa estão Pedro Bala, Professor, Sem-Pernas, Volta-Seca, Gato, Boa-Vida e Pirulito. Cada um possui uma história de vida mais triste que a outra. Suas idades variam entre 11 a 14 anos. O mais velho (Pedro Bala) tem 16 anos.
O livro é bem escrito, rico em detalhes e nos faz sentir um misto de sentimentos em relação ao que denominamos hoje “meninos em situação de risco”. No decorrer da narrativa o autor nos mostra os dois lados da moeda em relação ao menor delinquente. Isso nos provoca uma mistura de sensações. Ao mesmo tempo em que a gente se enfurece por um estupro realizado, nos compadecemos ao ver o arrependimento do ato. Dessa forma Jorge Amado vai conduzindo a narrativa e mostrando outras diversas situações que envolvem os garotos, fazendo com que o olhar do leitor sobre a problemática seja executado sobre diversos ângulos.
O livro foi escrito pelo autor brasileiro Jorge Amado e publicado em 1937. O romance retrata a vida do grupo de menores abandonados, chamados de "Capitães da Areia", ambientado na cidade de Salvador do ano de 1930. Tendo como cenários as ruas e as areias das praias de Salvador, o livro retrata a vida de crianças sem família que viviam em um velho armazém abandonado (trapiche) no cais do porto da capital baiana. Os motivos que as uniram eram os mais variados, entre eles: ficaram órfãs, foram abandonadas, ou fugiram dos abusos e maus tratos recebidos em casa.
O livro é dividido em três partes: “Sob a Lua, Num Velho Trapiche Abandonado” (apresenta o local em que as ações transcorrerão); “Noite da Grande Paz, da Grande Paz dos Teus Olhos” (parte que surge a menina Dora); Canção da Bahia, Canção da Liberdade (mostra a desintegração dos líderes). Antes dessas divisões, existe uma sequência de reportagens e depoimentos, explicando que o grupo Capitães da Areia é composto de menores abandonados, marginalizados, que aterrorizam Salvador.
Entre os personagens que compõem o núcleo central da narrativa estão Pedro Bala, Professor, Sem-Pernas, Volta-Seca, Gato, Boa-Vida e Pirulito. Cada um possui uma história de vida mais triste que a outra. Suas idades variam entre 11 a 14 anos. O mais velho (Pedro Bala) tem 16 anos.
O livro é bem escrito, rico em detalhes e nos faz sentir um misto de sentimentos em relação ao que denominamos hoje “meninos em situação de risco”. No decorrer da narrativa o autor nos mostra os dois lados da moeda em relação ao menor delinquente. Isso nos provoca uma mistura de sensações. Ao mesmo tempo em que a gente se enfurece por um estupro realizado, nos compadecemos ao ver o arrependimento do ato. Dessa forma Jorge Amado vai conduzindo a narrativa e mostrando outras diversas situações que envolvem os garotos, fazendo com que o olhar do leitor sobre a problemática seja executado sobre diversos ângulos.
Em boa medida de um conjunto, resumiria "Capitães da Areia" como meninos que estão na disputa de um motim. Atacam as pessoas (estupram, enganam, assaltam), tudo isso para subsistirem. Que fiquei claro que não estou justificando e nem dizendo que sou a favor das infrações no livro relatadas. Apenas estou discorrendo que não posso julgar uma mãe por ter uma vida miserável e não ter noção da sua miserabilidade. Não posso julgá-la por colocar uma criança no mundo sem pensar, se o meio que ela vive à direciona dessa forma. Também não posso julgar essa mesma criança (fruto dessa mãe) nos seus atos ao passo que ela está fazendo o que é passivo de todo ser humano: sobrevivendo.
Eu sei que é complicado pensar em tudo isso - atos de violência que nos acomete no dia-dia - sem julgar e ter raiva, ainda mais quando passamos pela situação. O famoso jargão “só sabe, quem passa”. Quem já passou (exemplo, eu) sente na pele gritar o lado emotivo da coisa (raiva, ódio, vingança). Mas ficar histérica acredite, não mudou e nem nunca mudará em nada os ocorridos de violência que nos pegam. Onde eu quero chegar com tudo isso, é falar que no decorrer da leitura do livro “Capitães da Areia”, o autor me fez pensar sobre esse sentimento de asco que me invade ao ler uma notícia de crime que envolva um menor (seja abandonado ou não), seja quem for, mas no caso aqui: menor mesmo.
Vou contar para vocês um fato pessoal. Eu já fui assaltada três (3) vezes. Na primeira vez fui abordada por dois adolescentes munidos com arma de fogo. Os dois apontaram a arma para o meu filho que na época tinha apenas três (3) anos de idade. Eles levaram tudo que eu tinha em mãos (bem material). Imagine que a rua estava cheia de gente, mas isso não os impediu de realizarem o assalto. Claro, ninguém iria se meter. Eles estavam munidos. Na hora do assalto fiquei sem reação (como todo mundo). Mas assim que eles viraram a rua, peguei meu filho e desci para minha casa. Estava tremendo e com muita raiva. Confesso a vocês que eu queria matar aqueles meninos. Queria pegar o carro e ir atrás deles. Minha vontade era passar com carro por cima (momento de furor), mas não o fiz. Então tentei me acalmar e ficou aquele sentimento de raiva. Desde desse acontecido à famosa popular expressão “bandido bom é bandido morto” me acometeu.
Bem, eu citei o fato acima porque ao ler o livro "Capitães da Areia", por incrível que pareça não consegui sentir raiva dos meninos pelos atos cometidos na história. Talvez vocês possam pensar: "Claro Radija! Não aconteceu nada parecido com você na vida real. Aí é fácil, né?!" Mas a verdade é que o problema principal não é o caso de não ter acontecido comigo as mesmas situações listadas no livro. Porque de fato eu leio nos jornais sobre diversas situações horríveis que acontecem aqui e mundo à fora. E acredite, ao lê-las tenho sentimento de repulsa e reprovação. Mas no livro o que me fez não ter esse mesmo olhar sob os atos, foi simplesmente a forma que o autor discorreu as condutas por todos os ângulos.
No decorrer do romance ele me fez ter empatia pelos personagens. Eu consegui ver o menor como: infrator, abandonado, sobrevivente, ser humano... Fiquei pensando sobre a expressão popular citada acima no fato que ocorreu comigo. Expressão que já se manifestou no meu pensamento e em diversos pensamentos (bocas) aqui e no Brasil à fora. Junto com pensamento veio às questões sobre esse buraco enorme que existe na nossa sociedade. Os descasos das organizações que “cuidam” do menor. Eu comecei a ver a questão sobre outro ponto de vista, ou melhor, sobre vários pontos. E que descaso e agravante.
“O problema dos menores abandonados e delinquentes que quase não preocupava a ninguém em toda cidade.” Capitães da Areia, Pag. 74
Pense comigo sobre a denúncia que esse romance (publicado em 1937) traz. A temática de fundo: a criança abandonada na Bahia, no Brasil, na América Latina... Vamos calcular, estamos falando de uma coisa que tem mais de 70 anos. Sendo mais exata, faz 78 anos que esse livro foi publicado. Agora veja na atualidade a questão ainda forte, o agravante e o descaso. Um atual complexo fenômeno dos meninos e meninas de rua, problemática antiga, delatada no livro. O que no sentido Boaventura de Souza Santos na década de 70, também foi exposto do ponto de vista Sociológico, apontando para a cidade do Rio de Janeiro.
Diante da temática atual que o livro traz em suas linhas, surge à indagação: o que mudou de lá pra cá em relação à problemática que na década de 30 (época da publicação do livro) já era agravante? O que melhorou? Imagine que junto com essas perguntas vem às reflexões também do fracasso das instituições que cuidam de crianças e adolescentes. Não importa o nome que se dê a isso: orfanato, FEBEM, seja o nome que for. O que quero dizer é que mudar o nome das coisas nunca resolveu e nem nunca resolverá o problema. Porque o que vemos hoje em dia é apenas a mudança de nome nas instituições, mas os descasos dentro dela permanecem. Descaso que também é delatado no livro.
“Era um pequeno quarto, por baixo da escada, onde não se podia estar em pé, porque não havia comprimento. Ou ficava sentado, ou deitado com as pernas voltadas para o corpo numa posição mais que incômoda. Aprendeu a não beber caldo de feijão, que aumenta a sede. O barril onde defeca exalam um cheiro horrível. Não o retiram ainda. E sua barriga dói, sofre horrores para defecar. E como se as tripas fossem sair. As pernas não o ajudam. O que o mantém em pé é o ódio que enche seu coração.” Capitães da Areia, Pag.209
Interessante também é compreender a simbologia do “trapiche” (lugar onde os meninos viviam). Crianças abandonadas que não tem casa, não tem um lar (esse lugar privilegiado pelo afeto dos pais), veem no trapiche o lugar constitutivo e atributivo. Tentando simplificar, uma criança abandonada na rua está em um não lugar (a rua), aonde ela não é ninguém, ao passo que o trapiche atribui a essa criança uma identidade. Exemplos mostrados no livro: Pedro Bala, o chefe; Pirulito que depois vira Sacerdote; o Professor que é o que faz as leituras à noite a luz das velas, depois se torna um artista. Todo ser humano busca uma identidade no mundo. Todo ser humano é dotado de uma identidade. Eu passo a ser alguém a partir do momento que possuo a minha identidade. Aquilo pelo qual as pessoas irão me conhecem. Ao passo que, aquela criança abandonada que na rua (um não lugar), não é ninguém, passa naquele lugar privilegiado que no caso da história é o “trapiche”, a ser constituído como alguém. Vejamos que é no “trapiche” que os capitães podem começar a tentar buscar não exatamente sua identidade como, sujeito, mas sua identidade social.
Podemos ver no livro que Pedro Bala, por exemplo, além de um idealista, é um idealista da liberdade. O Pirulito, além de ser um menino obsessivo, é um menino chamado por Deus, vocacionado. Então se constrói essa identidade naquele local. O que não é diferente do que ocorre hoje em dia. Crianças buscam em seu meio social sua identidade, seja com o traficante ao lado, onde quer que seja. Se não tem lei e instrução, devido não ter pais para estipular ordens e direcionar, então fundamentam suas leis no lugar aonde buscam sua identidade. Voltando novamente para o "trapiche", para o chefe do lugar, Pedro Bala, é dali que vai emanar a lei. É naquele local que a criança vai autoquestionar-se. "O que eu quero ser quando eu crescer? Quem é o meu espelho? Quem eu sou? De onde eu vim? Para onde eu vou?"
É aí, que entra o problema. A criança pode até não ter as respostas naquele momento, mas há o espelho no meio onde ela se encontra. Onde pode começar a formular quem ela quer ser: “Eu não sei nada de onde eu vim, mas quero ser igual aquele traficante que me faz de aviãozinho. Igual o dono da Boca que vive cheio da grana. O mesmo que me dá um trocado para eu não morrer de fome. Ou igual aquele rapaz que bate carteira. Igual aquele chefe aqui do trapiche (Pedro Bala)”.
Seguindo a linha de raciocínio o quero dizer é que é intuitivo do sujeito buscar sua identidade. É intuitivo de uma criança se espelhar em alguém. Nós seres humanos nos reconhecemos no outro. Eu sei um pouco de quem sou de onde vim e para onde vou, a partir do outro. Então se eu cometo um delito porque eu sou fruto do meio social de onde nasci e vivi isso não me faz necessariamente um delinquente. Uma criança pode cometer um delito e não ser um infrator. Pode ter contato com a droga e não ser um tóxico dependente. Existe uma diferença abissal entre uma coisa e outra. E o autor com seu livro queria resgatar isso. Há uma diferença entre ser delinquente e ser uma reação circunstancial a um estado, a uma condição de vida.
Sobre o problema pode haver uma melhoria desde que não haja descaso, como ocorre até hoje. É preciso que se crie organizações qualificadas realmente dedicadas na causa. Porque não há como negar que nosso país ainda apresenta uma grande quantidade de pessoas em condições de miséria. Eu bato na tecla de que a educação é a chave. Parafraseando Mandela para falar no geral: Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ninguém nasce odiando um policial, ninguém nasce aprendendo a roubar, ninguém nasce aprendendo a matar. Para odiar, matar, roubar, seja o que for, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender tudo de ruim que a vida pode ensinar, elas podem também serem ensinadas de forma a serem pessoas melhores. Falo especifico dos menores, pois eles ainda estão em processo de formação e podem sim, mesmo que não seja 100% todos, melhorar.
Entrando agora no caso da maior idade penal que tem dado o que falar ultimamente. E tendo em vista que este livro se relaciona com a temática “menor abandonado”, que em sua maioria se relaciona com o crime, manifestarei minha mera opinião sobre ao assunto. Lembrando que é apenas opinião de leitora.
O que mais se viu nesses últimos dias foi o bafafá sobre a redução da maior idade penal. Sobre como isso “reduziria a violência nessa faixa etária, porque grandes partes da violência realizada no país são praticadas por adolescentes, que praticam os atos sem medo, porque sabem que não descerão a penitenciaria”. Quem nunca ouviu isso? Eu escuto e leio direto nos comentários pelas redes sociais. Pensando sobre isso discorro que isso é o maior mito que li na vida. Capitães de Areia que nos comprove que a violência é problemática antiga, já agravante na época da sua publicação. Está mais do que comprovado que a penalidade pura e simples, bem como a massa de pena antevista ou obrigatória, mesmo para o adulto, não é um coeficiente de queda da violência. Modelo exato é aquele dado pela chamada "Lei dos Crimes Hediondos" (Lei nº 8.072/90), que por meio de um trato mais severo com os autores de tais violações, objetivava baixar sua incidência. Sucede que, nunca foram realizados numerosos crimes hediondos como hoje, sobressaltando nossas cadeias e penitenciárias lotadas a tal ponto de se estar estudando a revogação ou alteração dessa lei, de modo a assentir o encadeamento para um regime prisional menos severo tal qual previsto para os crimes comuns (Informações segundo pesquisa de opiniões de especialistas da área). Nos Estados Unidos, onde existe a previsão de penas de morte e prisão perpétua, em 07 (sete) anos de aumento de sentenças aplicadas a jovens, o que se verificou foi a TRIPLICAÇÃO dos crimes praticados entre adolescentes, sendo comuns casos de "chacinas" produzidas por jovens em escolas. O que é importante para a redução da violência é a AÇÃO RÁPIDA e EFICAZ das autoridades encarregadas da segurança pública e da própria Justiça, de modo que os crimes praticados sejam rapidamente esclarecidos e seus autores - adolescentes ou não, recebam a devida sanção. A sistemática prevista pelo Estatuto da Criança e do Adolescente visa justamente isso, de modo que, por exemplo, um adolescente possa ser sentenciado a uma medida de prestação de serviços à comunidade ou obrigação de reparar o dano NO DIA SEGUINTE à prática infracional, desde logo iniciando o cumprimento da medida. Se isso não ocorre na prática, a culpa não é da lei, mas sim da falta de uma estrutura adequada para sua implantação. A proposta do Estatuto é tão boa e avançada que, no Brasil, foi COPIADA pela chamada "Lei dos Juizados Especiais Criminais" (Lei nº 9.099/95), destinada a crimes de menor potencial ofensivo praticado por adultos, bem como vem sendo estudada e tendo sua sistemática também adotada por vários outros países, em especial da América Latina. Veja que novamente podemos ver aqui a delação que Jorge Amado fez sobre a falta de estrutura das Instituições que cuidavam dos menores e que até hoje existe. A melhoria que poderia ter acontecido em relação a problemática se houvesse estrutura nas Instituições.
Finalizo essa resenha enorme dizendo a você leitor do blog que esse livro é excelente! Ele entrou na lista de melhores leituras recentes que fiz. Fico pensando porque o mesmo não é obrigatório nas escolas. O que você pode extrair desse livro não cabe em um papel. É discussão para vários dias. Tente ler a sociedade com Capitães da Areias nas mãos. Veja a verdadeira saga urbana que Jorge Amado criou. Fantástico e emocionante! Atual e necessário! Maravilhoso, muito bem escrito e detalhado. Eu não narrei muito do livro em si aqui, digo a história, porque isso você tem que conferir com seus próprios olhos. Ter suas próprias reflexões e empatia. Além de todo os questionamentos que o livro me trouxe, também me causou um misto de sensações indescritível. Só sentindo! Leiam! Recomendo muito! Se já leram contem nos comentários como foi sua experiência com a leitura. Irei adorar saber. Até a próxima resenha!